Eu perdi as contas da minha permanência no Complexo depois do vigésimo dia. Talvez eu já estivesse despertado a uns trinta ou quarenta dias. Por vezes pensei em me revelar as mulheres e voltar para a minha feliz condição de inocência. Conforme conheci mais das plantas da construção e dos procedimentos mais difícil ficou para evitar ou hesitar de cumprir alguma ordem. Muitas vezes eu conseguia funcionar completamente no automático como as outras unidades, sem pensar em nada, mas minha auto consciência continuava presente e forte.
Nem me preocupava mas em evitar os remédios e sabia que a cada nove dias sempre eram realizados exames e remédios eram ministrados via injeções.
Meu único cuidado sempre foi o de evitar os inicios e finais de grupo, posição onde geralmente unidades são escolhidas para atividades.
Encontrava-me na sala de descanso quando uma mulher abrir a porta e perguntou:
--- A unidade 96 está aqui?
Eu assustei com a pergunta, mas não precisei pensar na resposta, meu corpo já havia se levantado e minha voz dito:
--- Unidade 96 se apresentando.
--- Venha comigo.
Eu até tentei não seguir a mulher pelos corredores, mas não conseguia sequer pensar em outra coisa.
Fomos para a ala que eu pouco conhecia, mas já havia estado por lá uma vez. Fui deixado numa sala com uma mulher de avental branco que reconheci imediatamente. Eu não sabia quem ela era, mas eu a conhecia.
A mulher que me trouxe foi embora e a doutora falou:
--- Pode se sentar se quiser.
Para um unidade não existia diferença entre um pedido ou uma ordem e prontamente eu já estava sentado. Também qualquer desejo é irrelevante.
A doutora sentou-se em minha frente e tomou um grande gole de um xícara de café. Pude sentir o cheiro.
Observou-me por algum tempo. Eu fiz o melhor rosto de unidade que pude. Em algum momento ela perguntou:
--- Qual é o seu nome?
Não havia necessidade de pensar para responder, mas eu tentava me concentrar para o caso de uma mentira necessária.
--- Unidade 96.
--- Você lembra de algum outro nome?
Felizmente a resposta não exigia um mentira, mas eu estava com medo que não conseguisse mentir se a situação chegasse a isso:
--- Não.
--- Você sabe o meu nome.
--- Não.
Estava muito difícil disfarçar. Eu estava tremendo e acreditava que a doutora já tinha percebido o fato. Não sabia até onde isso entraria na escala das anormalidades, mas com tantas unidades não é possível que em alguns momentos não aconteçam anomalias diversas. Mas a meu favor existia que meu cérebro me forçava apenas a respostas simples e bem diretas.
--- Você sabe onde está?
--- No Complexo.
A resposta que eu pensei em dar seria numa enfermaria, mas minha língua havia sido mais rápida que meus pensamentos e temi que seria muito difícil eu conseguir mentir, se a resposta requerida não exigisse raciocínio. Mas a resposta não pareceu incomodar a mulher que continuou:
--- Porque você está nervosa?
--- Medo.
A resposta saiu em modo automático. Eu desconhecia que outra unidade não pudesse dar a mesma resposta, que visivelmente intrigou a doutora. Ela tomou outro gole do café e depois perguntou:
--- Gosta de café?
--- Não sei.
Acreditei que a pergunta foi bastante maliciosa e agradeci por não ter memórias. A resposta automática foi verdadeira, embora o cheiro me agradasse.
A doutora se levantou e pegou algo em uma gaveta. Chegando ao meu campo de visão pude ver uma pequena arma, um revólver. Ela disse:
--- Você sabe o que é isso?
--- Sim.
Eu já nem tentava mais disfarçar o medo, mas tentava permanecer com um rosto sem reações. Agradeci também pela ordem que me mantinha sentado a cadeira. Ela continuou:
--- Essa arma está carregada e um tiro na sua cabeça dado por ela vai te matar. Você compreende?
--- Sim.
--- Pegue a arma.
Eu pensei em hesitar, mas minha mão já tinha pego o revólver. A lembrança de fuga povoava meus pensamentos as vezes, mas logo meu único pensamento era de obedecer. Outra ordem logo chegou:
--- Atire na sua própria cabeça.
Antes que eu pudesse evitar ou mesmo raciocinar sobre a ordem eu já havia puxado o gatilho com a arma encostada na minha testa, mas nada aconteceu. Ela tirou a arma da minha mão e ficou algum tempo em silêncio. Depois me deu um olhar, que senti carregado de carinho, e falou:
--- Siga de volta para as salas de descanso e aguarde.
Aliviado retornei no automático para o descanso. Eu estava tentando evitar de pensar em qualquer coisa. Cada vez eu estava ficando melhor em deixar meu corpo no automático e fugir de ficar pensando.
Eu acredito que passei no teste, pelo menos por enquanto.
Continua...
Nem me preocupava mas em evitar os remédios e sabia que a cada nove dias sempre eram realizados exames e remédios eram ministrados via injeções.
Meu único cuidado sempre foi o de evitar os inicios e finais de grupo, posição onde geralmente unidades são escolhidas para atividades.
Encontrava-me na sala de descanso quando uma mulher abrir a porta e perguntou:
--- A unidade 96 está aqui?
Eu assustei com a pergunta, mas não precisei pensar na resposta, meu corpo já havia se levantado e minha voz dito:
--- Unidade 96 se apresentando.
--- Venha comigo.
Eu até tentei não seguir a mulher pelos corredores, mas não conseguia sequer pensar em outra coisa.
Fomos para a ala que eu pouco conhecia, mas já havia estado por lá uma vez. Fui deixado numa sala com uma mulher de avental branco que reconheci imediatamente. Eu não sabia quem ela era, mas eu a conhecia.
A mulher que me trouxe foi embora e a doutora falou:
--- Pode se sentar se quiser.
Para um unidade não existia diferença entre um pedido ou uma ordem e prontamente eu já estava sentado. Também qualquer desejo é irrelevante.
A doutora sentou-se em minha frente e tomou um grande gole de um xícara de café. Pude sentir o cheiro.
Observou-me por algum tempo. Eu fiz o melhor rosto de unidade que pude. Em algum momento ela perguntou:
--- Qual é o seu nome?
Não havia necessidade de pensar para responder, mas eu tentava me concentrar para o caso de uma mentira necessária.
--- Unidade 96.
--- Você lembra de algum outro nome?
Felizmente a resposta não exigia um mentira, mas eu estava com medo que não conseguisse mentir se a situação chegasse a isso:
--- Não.
--- Você sabe o meu nome.
--- Não.
Estava muito difícil disfarçar. Eu estava tremendo e acreditava que a doutora já tinha percebido o fato. Não sabia até onde isso entraria na escala das anormalidades, mas com tantas unidades não é possível que em alguns momentos não aconteçam anomalias diversas. Mas a meu favor existia que meu cérebro me forçava apenas a respostas simples e bem diretas.
--- Você sabe onde está?
--- No Complexo.
A resposta que eu pensei em dar seria numa enfermaria, mas minha língua havia sido mais rápida que meus pensamentos e temi que seria muito difícil eu conseguir mentir, se a resposta requerida não exigisse raciocínio. Mas a resposta não pareceu incomodar a mulher que continuou:
--- Porque você está nervosa?
--- Medo.
A resposta saiu em modo automático. Eu desconhecia que outra unidade não pudesse dar a mesma resposta, que visivelmente intrigou a doutora. Ela tomou outro gole do café e depois perguntou:
--- Gosta de café?
--- Não sei.
Acreditei que a pergunta foi bastante maliciosa e agradeci por não ter memórias. A resposta automática foi verdadeira, embora o cheiro me agradasse.
A doutora se levantou e pegou algo em uma gaveta. Chegando ao meu campo de visão pude ver uma pequena arma, um revólver. Ela disse:
--- Você sabe o que é isso?
--- Sim.
Eu já nem tentava mais disfarçar o medo, mas tentava permanecer com um rosto sem reações. Agradeci também pela ordem que me mantinha sentado a cadeira. Ela continuou:
--- Essa arma está carregada e um tiro na sua cabeça dado por ela vai te matar. Você compreende?
--- Sim.
--- Pegue a arma.
Eu pensei em hesitar, mas minha mão já tinha pego o revólver. A lembrança de fuga povoava meus pensamentos as vezes, mas logo meu único pensamento era de obedecer. Outra ordem logo chegou:
--- Atire na sua própria cabeça.
Antes que eu pudesse evitar ou mesmo raciocinar sobre a ordem eu já havia puxado o gatilho com a arma encostada na minha testa, mas nada aconteceu. Ela tirou a arma da minha mão e ficou algum tempo em silêncio. Depois me deu um olhar, que senti carregado de carinho, e falou:
--- Siga de volta para as salas de descanso e aguarde.
Aliviado retornei no automático para o descanso. Eu estava tentando evitar de pensar em qualquer coisa. Cada vez eu estava ficando melhor em deixar meu corpo no automático e fugir de ficar pensando.
Eu acredito que passei no teste, pelo menos por enquanto.
Continua...
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