Alguns conteúdos presentes no blog abrangem temas que podem ser ofensivos para alguns. Prossiga por sua conta e risco.

Bom divertimento!

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Criação de Animais - Parte 1 - Conversão


Tentei me lembrar como viera parar naquele lugar. Eu havia deixado o escritório em direção de minha residência, mas as coisas se tornaram nebulosas. Depois acordei dentro de minha forçada prisão.

O pequeno cômodo não tinha mais que três metros de extensão e menos de dois metros de largura. No local estava uma pequena cama, um vaso sanitário simples e uma torneira que me permitia uma limpeza básica.

Não existia janela, mas apenas uma grande entrada inteiramente protegida por uma grossa grade de ferro que nunca foi aberta desde a minha chegada. Depois dela apenas uma parede acinzentada, parte de um corredor, iluminado por uma luz natural distante, que apenas consigo enxergar parcialmente.

Eu posso ouvir sempre ruídos e latidos, mas nunca ouvi ninguém. Apenas tenho diariamente a visão da minha carcereira por alguns instantes, quando ela empurra a minha refeição pela pequena fresta inferior sob a grade.

Eu sempre me coloco a protestar diante a sua visão. Já chamei-a de nomes que fariam qualquer puritano passar vergonha, mas ela sempre pareceu nem reparar na minha presença. Apenas empurra um carrinho e faz o ato automático de colocar a minha refeição sob a grade.

No teto de minha prisão uma lâmpada fica acesa por horas durante o dia e é apagada quando percebo que anoitece pela luz natural proveniente do corredor. Já pensei em quebrar a lâmpada, mas fiquei temeroso de ser mantido no escuro.

Hoje me serviram como refeição carne picada com verduras e um caneco com leite. Todos os objetos são de plástico, acho que a minha carcereira teme que eu possa machucá-la usando talheres metálicos ou algo assim.

Durante todo o tempo eu posso escutar uma música orquestrada baixa e cansativa, sempre no mesmo ritmo incômodo. As vezes parece que posso perceber palavras sendo ditas, mas a música não tem letra alguma e isso deve ser só impressão.

Eu sempre tive uma vida solitária e perdi meu pai a três anos em um acidente de automóvel. Não tenho parentes vivos que tenha conhecimento. Isso deve ter motivado o meu sequestro.

Não sei a quanto tempo estou aqui. Tentei marcar os dias no começo, mas acabei me atrapalhando e perdi a conta. Acho que algo entre duas ou três semanas, mas realmente não sei. Não existe nenhuma marcação de tempo que não sejam as minhas duas refeições diárias e o anoitecer.

Ouço a vagabunda da minha carcereira chegando pelo corredor empurrando o carrinho. Isso faz aumentar os ruídos e latidos que posso escutar. Novamente grito com a força de meus pulmões por socorro e comunico a minha situação em cárcere. Se alguém prestou atenção em minhas palavras nada fez.

***

Acordo com a luz para mais um dia da desesperadora rotina. Eu tento balançar a grade e faço barulho, apenas para ouvir ruídos como resposta. Quero sair, quero voltar para a minha vida.

Tenho muitas dores de cabeça. Às vezes fica difícil pensar e acho que estou esquecendo as palavras. Quero xingar a minha carcereira de todos os palavrões existentes, mas as vezes as palavras estão me faltando. Acho que o isolamento e a falta de conversar com outras pessoas está me afetando.

As minhas roupas ficaram mal cheirosas e incômodas e aos poucos fui parando de usá-las o tempo todo. É complicada a minha higiene pessoal usando apenas uma torneira que tem um fraco fluxo de água fria. O meu calçado eu já tinha dispensado desde o começo e atualmente uso apenas as minhas calças. O clima no geral é agradável, então algumas vezes abandono as calças e fico apenas usando as minhas cuecas. As roupas parecem tão incômodas.

Para afrontar eu muitas vezes mostrei o meu pinto para a carcereira, esperando alguma reação ou pelo menos uma palavra de indignação, mas isso nunca ocorreu. Estranhamente sei que meu pinto está ficando ereto com facilidade e acaba ficando nessa situação por mais tempo que antes. Isso seria muito bom se eu não estivesse preso e sozinho.

Eu odeio a rotina. Quero fazer algo diferente, mas o máximo que consigo é correr e pular no limitado espaço dentro da prisão.

Escutar a agradável música me acalma, e prestando a atenção nela as vezes perco a noção da passagem do tempo.

As vezes tenho desejo de lamber algum objeto de minha cela para sentir o seu sabor. Evito fazer isso porque não acho que seja muito higiênico, mas é um prazer sentir novos sabores.

Logo a minha refeição é deixada. Mais uma vez esqueceram os talheres de plástico, isso acontece às vezes. Sou obrigado a comer com a mão. Tento lembrar o nome do produto que estou comendo e não consigo.
Quero a minha vida de volta.

***

Eu estava cochilando quando escutei a aproximação do carrinho de comida. Eu podia sentir o seu cheiro ao longe.

Eu gostava de poder receber a minha comida. Sempre tentava adivinhar o que seria servido, mesmo que não consiga lembrar seus nomes. Mas posso recordar bem seus cheiros e seus sabores.

As vezes sinto falta e quero conversar com a entregadora da minha comida, mas parece tão errado tentar falar com ela que sinto vergonha de pensar nisso. Eu gosto do cheiro dela, queria poder ficar mais tempo em sua companhia.

O meu local de dormir foi removido numa noite enquanto eu dormia e uma cama mais baixa e confortável, com muitos panos gostosos, foi deixada no lugar. Também o local de minhas necessidades mudou e ficou muito mais prático.

Eu tenho dor nas costas quando tento ficar em pé, por isso prefiro permanecer ajoelhado e me movimentar engatinhando. Também acho mais confortável comer no chão que tentar ficar sentado.

Eu queria poder sair para correr e brincar. Aqui parece tão apertado.

***

A mulher estava ao meu lado e tocou a minha cabeça algumas vezes fazendo uma gostosa carícia. Seu cheiro é muito gostoso, diferente do cheiro da entregadora de comida. Gosto de lamber suas mãos e sentir o seu sabor.

Eu posso ouvir a sua voz e as suas palavras doces. É difícil entender muitas palavras em sequência, é mais fácil uma palavra apenas quando falada diretamente para mim.

Ela me chamou algumas vezes de Boby e sorriu bastante. Esse deve ser o meu nome. Não consigo lembrar-me de nenhum outro nome.

A mulher passa um líquido frio e gostoso em minha mão e no meu joelho. Eles doem e estão feridos. A mulher é muito boa comigo.

A entregadora de comida leva coisas embora da minha morada. Tento lembrar o que ela está levando embora, mas isso pareceu tão sem utilidade.

A mulher passa um pano úmido e perfumado pelo meu corpo. Sinto sensações estranhas que não consigo interpretar.

Ela amarra algo em minhas mãos e nos joelhos. Eu demoro a entender a sua utilidade, mas logo percebi que eram proteções que facilitariam a minha locomoção. Agora eu poderia brincar sem sentir dor. A mulher é muito boa para mim.

A mulher ajusta algo em meu pescoço. A palavra “coleira” veio imediatamente em minha cabeça, mas não consegui lembrar o seu significado, mas não pareceu importante também. É muito bom ter a mulher me tocando e me agraciando.

A mulher levantou-se e me deixaram sozinho novamente. Eu quero sentir mais do cheiro delas que é tão bom. Eu gosto muito delas.

***

A mulher se aproximou pelo corredor. Eu sabia que ela era, pois seus passos são diferentes da entregadora de comida. Quando ela se aproxima posso sentir seu diferente cheiro também. Estou feliz que ela esteja próxima.

A entrada de minha pousada é aberta. A mulher fala palavras doces e agradáveis e chama por meu nome. Eu queria entender mais, mas apenas pude compreender o meu nome e fui em sua direção.

Algo foi preso em meu pescoço e senti um puxão fraco. Demorei a compreender, mas o novo puxão um pouco mais forte me fez compreender que eu deveria seguir a mulher para fora da minha morada.

Eu estava feliz e curioso por finalmente sair. Eu queria mais espaço para poder brincar, será que eu teria mais espaço?

O corredor não é muito comprido e passo por outras moradas como a minha, mas elas estão abertas e vazias.

Saímos do corredor num grande espaço. Outros como eu estão dispersos no local, envolvidos em brincadeiras com objetos diferentes que eu não conheço. A infinidade de novos cheiros é imensa.

Tenho medo desses novos conhecidos. Sei que eles são diferentes da mulher e da entregadora de comida, eles são como eu. A minha presença parece que despertou curiosidade neles, mas se mantiveram a certa distância.

A mulher soltou o cabo que estava preso ao meu pescoço e me dei um fraco tapinha na bunda falando algumas palavras. Não consegui entender sua fala, mas estava contente pela liberdade de movimentos, e mesmo temeroso, aproximei-me de meus iguais.

Eu sabia que somos diferentes e divididos em dois grupos. Consigo sentir cheiro diferente em cada grupo. Um dos grupos parece estar mais próximo da mulher e da entregadora, diferente de mim.

Outro como eu está lambendo e sentindo o meu gosto. Ele late para mim de uma forma não agressiva. Tenho vontade de retribuir e fazer o mesmo.

A mulher parece contente e afaga os outros quando se aproximam. Depois ela foi embora. Senti falta dela, mas imediatamente olhei meus novos conhecidos e percebi quantas novas companhias eu tinha.
Estou feliz.

Continua…

Nenhum comentário:

Postar um comentário