Levantei ao primeiro raio de sol e abandonei rapidamente a casa, conseguindo levar um pouco mais de ração nas minhas provisões. A idosa ainda estava dormindo e preferi não me despedir. Voltei rapidamente para a estrada, acreditando que ficando longe dos cachorros machos estaria segura.
Eu estava bastante descansada e conseguindo andar mais rápido. Queria me distanciar logo da casa da idosa que me trazia muitos riscos.
Andei pelas minhas estimativas por duas ou três horas. As casas estavam desaparecendo e grandes plantações surgindo conforme a idosa me revelou. As pessoas a pé desapareceram e muito eventualmente algum carro passava por mim.
Quando percebi quatro carros ao longe desconfiei que meus captores estavam chegando e quando eles se aproximaram tive certeza. Não me preocupei em me esconder. Estava muito cansada e acho que minhas esperanças estavam me deixando.
Os quatro carros me cercaram e fiquei imóvel, imaginando de qual dos veículos partiria o primeiro disparo.
Levou algum tempo para alguém descer dos carros e reconheci imediatamente a primeira mulher que havia visto naquele lugar, antes mesmo do inicio de meu tratamento. Ela caminhou até mim com calma e perguntou:
--- Você é a Belly, suponho?
Apenas movimentei a cabeça em concordância. Não estava com vontade de falar ou qualquer outra coisa. A mulher falou:
--- Meu nome é Medeleine, é uma grande surpresa conhecê-la. Nós não acreditávamos que você fosse algo possível. Eu não vou machucá-la, vamos comigo.
Entrei no carro junto com ela onde um cachorro me reconheceu imediatamente como uma cadela. Medeleine percebeu o fato e comentou:
--- Impressionante, ele pode reconhecê-la como cadela mesmo estando em pé e vestida. Isso é correto?
--- Sim. E terá as mesmas reações que entre cachorros e cadelas, se não estivesse separado por uma grade provavelmente teríamos uma relação sexual aqui no carro.
O caminho prevaleceu sem mais conversas, mas minha tristeza era aparente. Eu quase chegava a desejar tornar-me uma cadela por completo e não poder mais pensar, os cachorros e cadelas eram felizes dessa forma.
Eu estava de volta ao canil. Enxerguei ao longe grupos de cachorros em treinamento, uma nova geração que logo estaria nas casas.
Fui acomodada num quarto simples, mas humano onde deixei as minhas poucas coisas. Alimentaram-me de ração e água e somente algumas horas depois fui levada para uma sala de reuniões onde Medeleine me aguardava. Com educação perguntou:
--- Sei que está muito desanimada, mas preciso lhe fazer algumas perguntas. Você compreende?
Eu pensava mesmo em colaborar. Nada me restava a perder e talvez eu evitasse para outros o sofrimento que estava tendo. Respondi:
--- Sim.
--- Você sempre conseguiu pensar, o tratamento não funcionou em você?
Eu precisei relembrar meus primeiros dias ou semanas. O meu treinamento já estava para trás a mais de um ano. Mas expliquei como pude:
--- Durante o primeiro filme, com as bolas de brincar, eu esqueci tudo e realmente fui convertida em uma cadela. Mas de algum modo, como se acordasse de um sonho, voltei a recordar as minhas lembranças e desde então consigo ser humana e ser uma cadela. Os dois mundos estão dentro de mim, embora o mundo cadela seja mais forte.
--- E não pensou em se revelar?
--- Não achei que ficaria viva se fizesse isso. Eu podia agir como uma cadela, porque me revelaria? Quando vocês tiraram os arreios que nos impediam de levantar em pé e a falar eu pude ter certa autonomia de volta. Procurei outros como eu e não achei ninguém. Na casa de minha primeira dona vocês me contaminaram com muito medo, isso segurou qualquer ação minha, mas na minha segunda dona esse medo desapareceu e pude agir. Vocês me controlavam com as injeções?
--- Sim. As drogas influenciam em sua personalidade de forma bastante forte. Desse modo os donos podem ter seus cachorros como desejarem. Sua primeira dona queria uma cadela muito submissa, isso acabou refletindo num medo exagerado. Não é uma personalidade padrão. Já sua segunda dona queria uma cadela rebelde que pudesse enfrentar seus machos e sua droga foi alterada para essa característica. Agora seu corpo está perdendo aos poucos as características impostas e retomando sua própria personalidade.
Pensando no meu destino perguntei:
--- E o que acontece comigo agora?
A mulher foi pega de surpresa na pergunta. Talvez ainda não tivesse uma decisão que poderia depender de muitas pessoas. Mas respondeu:
--- Não vejo porque matá-la ou algo assim, se essa é a sua dúvida. Mas você nunca poderá ser uma pessoa, os cachorros sabem e a tratarão como cadela, ainda não sabemos exatamente como isso ocorre, mas sabemos que não está ligada a estrutura básica que ainda está em seu corpo, é algo mais complexo. Não sabemos que papel você poderá ter na sociedade ou como aproveitá-la. Claro que devolvê-la para o mundo de onde você saiu não seria possível, nem acreditamos que você se adaptaria novamente a ele.
--- Poderiam me tornar uma cadela completa?
A mulher demorou a responder e explicou:
--- É improvável. Podemos recolocá-la no treinamento e fazê-la assistir aos filmes novamente, mas não acredito que fará diferença. Você já é uma cadela. Podemos influenciá-la com as drogas de diversas maneiras, mas você sabe que serão características como medo, submissão, rebeldia e muitas outras. Não posso fazer você parar de raciocinar. Você deveria ter esquecido as suas memórias, isso mataria seu raciocínio, mas não aconteceu e aumentar as dosagens das drogas vai matá-la, já ficamos nas margens do limite seguro durante o treinamento.
--- Então minha pergunta continua, qual será o meu destino?
Continua...
Interessante a estoria. Fico me imaginando no lugar da cadela, parabéns pela estoria e ansioso pelo fim.
ResponderExcluirQue bom que você está gostando. O final chega a semana que vem, provavelmente na quarta ou na quinta. Aguarde...
ExcluirEsta acabando mas até gostaria que continuasse mais pois e muita boa história. Tb imagino como seria ser cadela!
ResponderExcluirA história já está próxima do fim, mas já comecei a escrever uma continuação abordando outras possibilidades. Ainda sem previsão quando irá "ao ar".
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