Já fazia um mês e um pouco da chegada da escrava Clara. Eu acreditava que a garota apenas estaria ao meu lado me atrapalhando e tentando me seduzir.
Sim, ela transpira sexualidade em cada um de seus gestos e parece estar excitada e em busca de sexo o tempo inteiro, mas tem uma memória e uma capacidade de aprender inestimável, além de se esforçar para me agradar como nunca ninguém fez. Parece que quanto mais fico contente com o seu progresso mais ela quer aprender.
Ela tem uma capacidade de foco e concentração que muito me interessou e que quero aprender mais. Eu poderia me superar ainda mais com tais capacidades.
Consegui nos arquivos privados de minha mãe o contato do fornecedor de escravos. Ficava na periferia da cidade, num local onde eu nunca tinha estado.
Com cautela agendei uma visita. Eu sabia que a minha mãe é uma das financiadoras e clientes especiais dessa operação e não negariam o meu pedido para uma reunião.
O GPS auxiliou-me a chegar naquele lugar isolado e formado de grandes e distantes propriedades. Os altos muros e portões fechados fizeram daquele lugar uma fortaleza. O isolamento é necessário para a ilegal atividade de fabricação dos tolos escravos.
Com a minha chegada portões automáticos foram sendo abertos até que estacionei em uma garagem. Haviam muitos espaços cobertos, provavelmente para manter privacidade de olhares do alto.
Fui recebida por uma garota de olhar ausente e roupa sensual, uma escrava. Com poucas palavras ela me conduziu por um labirinto de corredores até uma sala ricamente decorada. Uma senhora elegante e bonita me recebeu com um sorriso contido. Essa disse:
--- É um imenso prazer recebê-la. Eu sou Madame Raison. A sua mãe é uma cliente muito especial.
Ela me ofereceu uma bebida e conversamos trivialidades por algum tempo. Eu não sou uma pessoa que aprecio socialidades exageradas, por isso fiquei contente quando ela disse finalmente:
--- Qual necessidade exatamente você busca? Podemos produzir um escravo com as especificações que você desejar, ou você pode, com entrega imediata, escolher um item pronto em nosso acervo.
Abaixei a cabeça em discordância. No momento eu ainda estava descobrindo as capacidades de Clara e não sabia até onde outros escravos teriam performance similar. Resolvi ser direta em meus interesses e dúvidas:
--- Não, no momento não quero mais ninguém, essa não é a minha razão aqui.
A mulher me olhou com desconfiança e eu continuei:
--- Tenho interesse sobre certas particulares em relação a minha escrava Clara. Ela tem uma excelente memória, excepcional foco, concentração e capacidade de aprender. Isso é normal?
Relatei em detalhes para a Madame Raison as características desenvolvidas por Clara. A mulher refletiu por um momento. Talvez aquela não fosse uma pergunta habitual. Com calma ela respondeu:
--- Serviçais ou escravos sexuais são moldados para aprender e se tornar cada vez melhores naquilo que fazem e darão o máximo de si para agradar a seus donos. Nunca ouvi um relato de uma escrava sexual desenvolver aptidão avançada para informática, mas ela se adaptou ao seu perfil e é possível desenvolver características como você descreveu, embora isso não seja uma regra e outros escravos terão atitudes e reações diferentes. Esse caso pode ser único.
A informação me chateou. Eu já imaginava um batalhão de escravos tecnológicos a meu serviço. Mas haviam outras possibilidades e falei com entusiasmo:
--- Eu quero ter essa memória e todo esse poder de foco e concentração.
A mulher ficou bastante séria e pareceu preocupada. Ficou algum tempo em silêncio e depois disse:
--- Eu não quero uma guerra com a sua mãe e, de qualquer modo, eu não tenho como fazer o que você me pede sem efeitos colaterais.
Eu sabia o que queria e estou disposta pagar o preço de algum efeito indesejado. Também seria simples convencer a minha mãe e afirmei:
--- Eu posso pagar o preço de algum inconveniente e tratar com a minha mãe será simples. Diga para ela que você tem em método eficaz de me tornar uma lésbica convicta. Ela vai autorizar o procedimento.
A mulher me olhou com estranheza e um pouco depois pegou o telefone. Logo estava conversando com a minha mãe e usando os meus argumentos.
Elas ficaram mais de dez minutos num diálogo que em determinado momento parei de prestar atenção a conversa e passei a observar a diversidade dos livros na estante. Até a hora que ela desligou e falou:
--- Muito bem, sua mãe autorizou o procedimento. Empreste-me o seu celular e venha comigo.
Segui a mulher por um conjunto de corredores. Cruzamos com poucas pessoas e eu sabia que eram todos escravos. Talvez Madame Raison fosse a única pessoa normal naquele lugar.
Fomos a um corredor rústico e parando em frente a uma sala a mulher disse:
--- Chegamos, você ficará aqui. Entre no dormitório.
Com um pouco de medo entrei no pequeno cômodo. Havia um cheiro leve no ar que me lembrava de urina, mas tudo parecia limpo. No local estava uma pequena cama, um vaso sanitário simples e uma pia.
Atrás de mim ouvi o ruído de ferro batendo e me virando rapidamente pude ver uma grade de ferro pesado que foi fechada. Antes que eu pudesse falar algo a mulher disse:
--- Você terá o que quer. Foco e concentração. Tudo já está acertado com a sua mãe.
Sob meus protestos a respeito daquele lugar deprimente Madame Raison foi embora e eu me vi sozinha. Sentei sobre a cama refletindo a respeito do aumento das minhas capacidades de concentração e como isso seria fantástico para os muitos projetos que eu tenho em mente.
***
Despertei na minha cama desconfortável com um ruído. A minha primeira noite nesse lugar foi péssima. Será que aumentar as minhas capacidades exige tanto sacrifício?
Alguém está junto a grade e isso me assustou e levantei por reflexo. Uma serviçal estava manipulando um carrinho e logo depois empurrou algo sobre uma fresta maior na grade. Parecia ser uma bandeja.
Tentei trocar algumas palavras, mas a escrava seguiu vagarosa para fora da minha visão empurrando o carrinho barulhento.
Apanhei a bandeja com cuidado e levei para a cama. Nela estava um prato de plástico com algum tipo de carne picada com legumes. Nenhum talher fazia parte da entrega, o que me deixou aborrecida. Tive que me alimentar com a mão. Aparentemente o desconforto é parte integrante do meu aprendizado.
Comi parte da refeição. Eu percebi que era carne bovina, mas praticamente sem gosto e sem temperos. A serviçal deveria ser uma péssima cozinheira. Na falta de alguma bebida acabei tomando água na torneira mesmo.
Lamentei não ter livros, meu celular ou um computador naquele lugar. Ajudaria a passar o tempo e poderia estar fazendo coisas úteis.
***
Alguns dias se passaram. A minha única companhia externa foi a silenciosa serviçal me trazendo duas refeições diárias. Pedi e protestei algumas vezes pela presença de Madame Raison, mas não obtive qualquer resposta a minha solicitação. A serviçal nunca falou uma palavra sequer.
Não ter nada para fazer está me deixando irritada e nervosa. Já começo a lamentar o meu desejo de aumentar as minhas capacidades. O que Clara deve estar fazendo. Devem-te-la tornado parte do harem de minha mãe e todo o seu aprendizado foi em vão. Quero sair, quero voltar para a minha vida.
As dores de cabeça começaram após alguns dias. Imagino que possa ser algo vinculado ao meu interesse por conseguir me concentrar mais, mas o efeito parece o oposto, pois as vezes fica até difícil pensar com a presente dor.
As minhas roupas estão ficando mal cheirosas. Eu não tenho trocas de roupas, então procuro lavá-las antes de dormir e no geral elas estão secas pela manhã, mas não tenho nada parecido com sabão. A minha pobre higiene pessoal é feita na minha única torneira e apenas com água fria. Meu cabelo está ficando duro e incômodo, com a falta de uma escova ou de um simples pente.
Existe uma música distante e um pouco incômoda. Eu queria estar em posse do meu celular onde existiam centenas de músicas, mas ele ficou com Madame Raison.
***
Acordo com a luz para mais um dia da desesperadora rotina. Eu tento balançar a grade e faço barulho, apenas para ouvir ruídos sem vida como resposta. Quero sair, quero voltar para a minha vida.
Tenho muitas dores de cabeça. Lembro-me dos meus projetos e da minha vida. Isso faz com que a minha dor de cabeça se torne insuportável.
A visão da minha serviçal me faz sentir raiva. Já pedi muitas vezes pela presença de Madame Raison, mas a mulher me ignora completamente. Algo está errado e não estou me tornando mais focada ou mais concentrada. Percebo que a cada dia está mais difícil pensar.
Tenho medo da estranha música que posso ouvir continuamente. De alguma forma ela me acalma, mas não quero ficar calma. Ouvindo-a, as vezes, eu perco a noção da passagem do tempo.
Quero um banho, quero uma visita a um salão de beleza e quero sair com as minhas amigas. Apenas o vazio do corredor ouve o som do meu desespero.
Continua…
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