Acordei assustado, mas sentindo-me mais forte. A garganta queimava de sede e a fome estava moderada.
Levei alguns segundos para conseguir encarar as telas que continuavam com seus cenários de belezas naturais.
Com as muitas mudanças de cores provenientes de todas as direções levei algum tempo para perceber alguns objetos brancos deixados ao lado do meu colchonete: dois pratos, um copo, uma jarra com um líquido e talheres.
Peguei com cuidado um dos pratos. Ele era de plástico e coberto por um plástico fino transparente, protegendo um líquido em seu interior, algo como uma sopa. O segundo prato era similar ao primeiro, mas continha objetos sólidos imergidos no líquido.
Rasguei o plástico fino que protegia a jarra de plástico e coloquei o líquido no copo. Parecia ser uma espécie de leite ou suco branco de uma consistência quase água.
Experimentei com cuidado, mas achando que existiriam formas mais simples de me matar sem o uso de veneno. O sabor era muito diferente de leite ou de qualquer suco que eu já havia experimentado, era levemente adocicado e mais concentrado que sua aparência mostrava. Não chegava a poder ser descrito como gostoso.
Acabei por sorver rapidamente três copos, deixando a jarra com pouco menos da metade da quantidade original.
Permaneci em silêncio e procurando sentir se algo estava errado por algum tempo, aproveitando para observar se algo mudara nos cenários. Se existiam filmes sendo repetidos, eu não havia percebido, mas era bastante ampla a variedade de locais, plantas e animais exibidos, de muitos países.
Ainda com fome e cansado de assistir aos vídeos experimentei a sopa com os sólidos. Não pude identificar exatamente os ingredientes da consistente sopa, mas os sólidos eram pedaços de carne bovina, em uma quantidade que não me satisfez. Infelizmente estava fria.
Terminei o primeiro prato e comecei rapidamente o segundo. A sopa era mais rala e de sabor diferente da primeira, lembrou um mingau neutro.
Terminada a refeição levantei-me pela primeira vez. Minhas pernas protestaram num primeiro momento, mas logo agradeceram a mudança para a posição ereta. Com alguns passos avancei para um dos cantos da sala, queria entender melhor a mecânica daquele lugar.
A resolução das telas deveria ser fantástica, já que mesmo de muito perto era impossível enxergar os pixels de sua formação. Também mesmo de muito perto não era possível perceber qualquer rejunte ou espaço entre as telas.
Dei a volta à sala, procurando algo que pudesse parecer uma porta, mas todos os lados pareciam idênticos e sem uma saída. Talvez a resposta estivesse no teto, mas ele era muito mais alto do que eu poderia alcançar. Era nítido que a sala tinha de lado algo entre três ou quatro metros de lado e altura equivalente.
Passado algum tempo sem nenhuma alteração, a natureza lembrou-me que continuo humano e que tenho necessidades fisiológicas. Tentei falar, quem sabe alguém estivesse na espreita e eu finalmente fosse liberado daquele lugar:
--- Tem alguém ai? Eu preciso ir ao banheiro? É urgente!
Não sei se passou dez, quinze ou trinta minutos, mas nada mudou e ninguém apareceu ou se manifestou de algum modo.
Imaginei que uma loucura poderia mudar a minha situação, então retirei a peça única que estava trajando e numa das pontas da laça soltei com alívio um farto mijão.
A urina não escapou por nenhuma passagem escondida, formou uma possa razoável, apenas deformando as imagens daquele local específico, mas com o tamanho da sala não fazendo nenhuma diferença.
Não me preocupei em vestir-me novamente e com o fino tecido dobrado várias vezes improvisei um travesseiro. Reparei pela primeira vez a presença de pessoas em um cenário, uma tribo indígena. Com o tempo apareceram pessoas comuns em situações diferentes de convivência com a natureza, mas na maior parte do tempo ainda prevaleceram as plantas e os animais.
Não sei quantas horas depois, mas consegui dormir de forma muito mais relaxante. A roupa dobrada serviu como um escudo para os meus olhos. No dia anterior foi ruim dormir com o forte brilho das imagens invadindo meus olhos fechados, fato que mudou com o uso da roupa sobre meu rosto.
Continua...
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